Pesquisar neste blog

https://1.bp.blogspot.com/-rBKwDq3-vQc/WVyEm-wwGtI/AAAAAAAAniA/Amp1A1qWsp4Qg43lgdnbkbrRfcZ0XBZiACLcBGAs/s1600/3.jpg    Os eventos e promoções estão sendo colocados no instagram
Grupo no Facebook               Grupo no Telegram               Grupos no Whatsapp

domingo, 6 de abril de 2014

Cine Doroteu - Ninfomaníaca

NINFOMANÍACA * * *
[Nymphomaniac, DIN/ALE/FRA/BEL/GB, 2013]
Drama - 118 min/123 min

VOLUME 1

Lars von Trier psicologiza a vida sexual da protagonista com metáforas inusitadas, ao mesmo tempo em que satiriza o próprio ato de narrar. Estaria mesmo o dinamarquês tirando sarro das pessoas que o destratam como alguns críticos interpretaram? O fato desse filme dividido em dois por meras questões comerciais ter sido concebido após ele ser persona non grata em Cannes 2011 pode dar uma pista. Uma pista falsa? Vá saber as reais intenções do controverso cineasta, sempre disposto a criar polêmicas vazias. 

Esse primeiro volume é marcado pelas divagações pontuais de Seligman, feito por Stellan Skarsgard, em cima da história contada pela ninfomaníaca Joe de Charlotte Gainsbourg. Até os peixes são usados para analisar o comportamento “agressivo” da moça. Mas quem se destaca aqui é a estreante Stacy Martin, defendendo com sangue no olho a jovem Joe. Isso quando Uma Thurman não brilha em uma participação pequena, porém de tirar o fôlego. Como se trata de alguém com uma frieza perturbadora na maior parte da narrativa, von Trier usa Christian Slater como ponte afetiva para a personagem principal, e o ator de filmes de ação surpreende numa atuação humana e desapegada. 


Quem espera por um filme digno do título, certamente irá frustrar-se com as pouquíssimas, mas orgânicas, cenas realmente explícitas [se bem que há uma versão sem cortes]. O interesse do cineasta é nesse provocador estudo de personagem. Escrava de uma necessidade quase fora de controle, Joe divide características com o Brandon de Michael Fassbender em “Shame”. Ambos não estão em busca do prazer sexual propriamente dito, e sim do alivio gerado pelo gozo. Alívio de si mesmos.


VOLUME 2

Revela-se bem mais sombrio e pesado que a primeira parte, assim como narrativamente mais indulgente. Mantendo o mesmo tom episódico em capítulos, uma das marcas de sua filmografia, Lar von Trier toma alguns caminhos que prejudicam tudo o que vinha aparentemente construindo. Logo no começo, há uma revelação acerca de Seligman, o ouvinte/terapeuta/crítico, que soa apenas esquemática dentro do contexto da trama e, de certa forma, antecipa o desfecho. Stacy Martin sai de cena nos primeiros 30 minutos e Charlotte Gainsbourg por fim assume seu papel central, quando Joe desce fundo em suas próprias obsessões. 

Disso temos algumas cenas antológicas, para bem ou para mal, como os africanos que ficam discutindo quem vai penetrar o quê enquanto a protagonista se veste e sai do quarto sem ser notada. Ou então toda a sequência sadomasoquista entre ela e o personagem de Jamie Bell. Creio que duas podem incomodar mais crítica e público: a autorreferência a “Anticristo”, de 2009, na qual von Trier deixar claro seu poder de manipulação sobre o espectador, seu próprio espírito pretensioso e sua autoindulgência na piada elaborada; e colocar Jean-Marc Barr, que trabalhou com ele em “Europa”, de 1991, tendo uma ereção ao ouvir de Joe um relato pedófilo, para em seguida ser agraciado com um “boquete condescendente”. 

E o que dizer da relação lésbica que parece “resolver”, pelo menos em certo nível, a ninfomania? A única coisa que eu ainda não entendi foi o motivo de Shia LaBeouf ter sido trocado por outro ator para o personagem parecer mais velho se a própria Charlotte Gainsbourg tem cenas com ele, LaBeouf, antes e permanece até o final. Final que, como já mencionei, possui a piada cruel antecipada no início desse volume. 

O que pode ser sofisticado para alguns também pode não passar de provocação vazia para outros, como o “movimento” da vagina se transformando num olho abrindo, ou o discurso sobre Bach, ou seja lá qual metáfora Lars von Trier usa para dizer que um gênio está ali atrás da câmera. Encerrando a Trilogia da Depressão, composta também por “Anticristo” e “Melancolia” [2011], continua sendo um estudo inusitadíssimo da sexualidade feminina, mas apenas da personagem em questão.

Monteiro Júnior

Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *




Seja o primeiro a comentar.

Postar um comentário