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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Downloadeando - Anos dois mil feelings

Era uma tensão: ficávamos a semana inteira contando nos dedos para que o fim de semana chegasse e pudéssemos fazer alguma coisa. As intermináveis aulas do ensino médio que, por vezes, iam até 14:30, arrastavam a semana de uma maneira que só os fortes aguentavam. Fortes estes que treinavam sua paciência aguardando pouco mais de cinco minutos para receber uma foto no mIRC e aguentavam, bravamente, até o sábado à tarde, onde muitos ainda tinham simulados, provas, aulas e qualquer quinquilharia do infinito ano letivo das escolas.

Porém, depois, tudo passava. Era como a carta de alforria da semana, como se a própria Princesa Isabel assinasse a Lei Áurea e nos recebesse na porta da liberdade mostrando o infinito leque de opções: dos intermináveis shows que iam até o sol nascer, das mais diversas bandas locais e nacionais que tinham Teresina na sua rota de shows e tours. Fosse na lendária Templum, onde o que ditava o fim da festa era o sol do dia seguinte, fosse nas raves escondidas, que sempre estavam lotadas, fosse em qualquer coisa. Sempre havia opções legais.

Teresina recebia uma quantidade infinita de shows em sequência, os festivais eram organizados com bandas nacionais de verdade, independente do gosto pessoal de cada um. Festivais que tinham Planet Hemp, Charlie Brown Jr. e Tihuana, todas no auge, no casting, noites onde ao mesmo tempo aconteciam shows do Capital Inicial e Engenheiros do Hawaii, isso sem citar o Piauí Pop que, antes mesmo das grandes atrações, era um evento com espírito, atmosfera. Os históricos shows de metal semanais, por vezes mais de um gênero em um só sábado a noite, sem contar os shows nacionais e internacionais no Noé Mendes. Enfim, o fim de semana era um marco histórico na vida de toda pessoa que gostava da noite, opções nunca faltaram.

As coisas mudaram: hoje voltamos pra casa às duas, três horas da manhã e, quando não, os fortes guardiões da boemia noturna são obrigados a esticar a noite em praças, muitas vezes, pondo em risco a própria integridade física. Shows nacionais são artigo de luxo, raros, e quando ocorrem, geralmente são de bandas de fora do circuito, já sem tanto espaço por aí afora. Vemos as pessoas ansiosas por festivais covers, organizados com bandas muitas vezes sem tanta inspiração. Festivais tais que ainda são caros tanto no ingresso quanto na sobrevivência interna - cerveja, refrigerante, água, comida, etc - enfim, é como se tudo se tornasse artificial. A falta de opção é tão latente que a cena cover local age de forma fora da realidade, como se o que eles fizessem fosse a salvação do rock piauiense e fogem do conceito de cover = diversão. Sim, as pessoas levam o cover tão a sério aqui que brigam com unhas e dentes por RECONHECIMENTO. Sim, reconhecimento.

O que quero dizer é que as noites parecem ter perdido o sentido, a razão. Alguns de vocês podem até ter a mesma empolgação para uma noitada cover no Raízes ou mesmo por ver Validuaté e Roque Moreira pela 'quiquobilionézima' vez no Churu, mas realmente parece que tudo perdeu o sentido. Onde está aquela efervescência do passado, onde todos nós se reuníamos na casa de uma pessoa para se arrumar e prever como seria a noite? Quem ficaria embriagado? Quem pegaria quem? Como seria a vaquinha do táxi da volta? Como faríamos pra voltar pra casa? À pé? No corujão? De carona? Será se a mãe e o pai estarão acordados? Será se vão emprestar o carro? Enfim, era tudo mais emocionante justamente porque não tinha marasmo, não era repetido, não era mesmice. Hoje, amigos, nos contentamos com um pouco que se transformou em muito, que virou necessidade e fincou uma estaca de obrigatoriedade no meio da nossa diversão, desde a Nova Schin quente ao show cover de péssima qualidade, banheiros sujos e péssimo atendimento. Hoje não existe mais espaço para bandas autorais, as poucas que existem - exceção JUSTA feita ao Validuaté - estão fadadas ao ostracismo ou ao desmanche para a criação de alguma banda cover, como é de costume no nosso cenário. Sem citar nomes, mas quantas bandas de qualidade, com músicos excelentes e procedência em todos os estilos acabaram para virar alguma banda cover que toca por puro e simples dinheiro, sem vontade, apenas por obrigação?

Enfim, não estou dizendo que nossa noite morreu, que não há mais saída. Sempre há, mesmo no cover, quando tratado como DIVERSÃO. Ou, quem sabe, que uma luz desça sob os ombros dos responsáveis pela noite e resolvam fugir da repetição constante que há no nosso cenário. Teresina tem público pra tudo, o que talvez falte é o interesse deste mesmo público em ter sempre novidade, em fugir do ostracismo e exigir que tudo melhore, tais fatos não são difíceis, basta uma das partes - público ou organização - se manifestar de maneira coerente, tudo se resolve. Ou, ainda, simplesmente, podemos estar ficando velhos e chatos e só consigamos nos divertir sentado na mesa de um barzinho com os amigos, em um restaurante comendo ou no fundo de uma rede lendo o caderno de esportes do jornal.

PS1: Isto não é uma crítica à banda A, B ou a determinado estilo musical, é apenas uma reflexão PESSOAL das coisas, concordar ou discordar é um direito do Leitor.

PS2: In memoriam: Piauí Pop, Conexão Tijuana, Quinta Rock, Boemia no Centro, shows no Noé Mendes, Templum Pantheon, Até a Última Nota, Tribus Rock, e outras festas marcantes que não lembro agora.

PS3: Siga-me em @willameee.

12 comentários

Manu Sato disse...

Quando olho a praça P2 vejo o quanto mudou.Era muito legal quando tinha o Boca da Noite e no outro dia Quinta Rock e sempre tinha uma esticadinha ao Boemia. Hoje em dia vivemos num lugar onde diversão é praticamente zero devido a muitas restrições da qual o culpados somos nós. Me sinto uma criança acompanhada com os pais numa "matinê" nas noites teresinense. O que é isso? Vivemos numa capital ou na era medieval?

Willame Figueredo disse...

Lembro demais, fazia questão de ir toda semana e descer pro Boêmia, sempre tinham shows ótimos e você ia e se divertia. Era outro mundo..

Kessiane Abreu disse...

Rolou um flash back! Quinta Rock! Como era bom tudo aquilo! Saudades! Realmente os locais hj deixam a desejar, principalmente BANHEIROS! Só cover às vezes cansa... Fora que tudo agora começa às 23 ou 00h, em festa marcada pras 22h! Do tipo quanto mais tarde começa mais cedo termina! Aí eu penso "eu não vou me adaptar", mas no final "ou da ou desce"!

Amigas de Eva disse...

...eu era feliz e não sabia no tempo que ia pro corredor esprimido do "Nós&Elis" curtir bandas que já nem lembro o nome...mas os tempos são outros, tudo mudou, principalmente as pessoas...

Iara NM disse...

Ótimo artigo. Acho que o público tem parte da culpa, mas organizadores de Teresina também não ajudam, pouco incentivo, pouca divulgação, poucos eventos. Não há sequer espaço para grandes eventos, grandes atrações. Enquanto o circuito nacional está fervendo, Teresina está parada, contentando-se com os projetos de "pubs", festivais de forró-axé-pagode-rockpradizerqueéeclético, e um show pingado aqui e acolá em espaço impróprio para o público...
Esse comentário acabou sendo um desabafo. Aquele público de antigamente se dispersou.

somdeEbano disse...

me emocionei com o texto, bateu uma nostalgia tão forte... PARABÉNS!!

As aventuras de um blogger na ilha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
As aventuras de um blogger na ilha disse...

Concordo 100% com esse artigo. Saudades do tempo do boca da noite, a esticada no A2 com os amigos do Ex-CEFET (IFPI-Praca da Liberdade) na P2. Os shows na concha do Noe Mendes, Teresina eh Pop na praca Ocilio Lago (praca dos skatistas), Tribus Rock na extinta Poticabana, shows do Angra e Shaman na Templum Pantheon, as madrugadas do PIPOP aurorizadas com o SOL de 40 graus, foi-se um tempo que tao cedo nao retornaras. Indigno-me desde o tempo que a criatura Robert Rios impos uma lei que acaba com a pluralidade cultural madrugadoura de Terehell. Com a saida dele da secretaria de seguranca publica, espero que a gente possa contornar essa situacao regressiva ao cenario noturno, boemio e diversificado de outrora. Parabens @willameee

Fernanda Paz disse...

E as bandas que aparecem (novas) qdo não são cover, são um modelo copiadíssimo das já existentes...

Anderson de Moura Lima disse...

Adorei o texto! Também sou dessa época em que você tinha a impressão de que se saísse na noite Teresinense iria sempre encontrar algo ou alguém interessante...Iria ter uma aventura programada ou inesperada...Parece que Teresina era mais jovem, mais impulsiva e mais gostosa há alguns anos atrás. Hoje não encontramos tantas pessoas interessantes porque os ambientes não estão interessantes. Não havia tanta violência e tantos roubos então não tínhamos tanto medo de sair de casa...Não havia receio de voltar bêbado e perder a carteira numa blitz...E sabíamos que poderíamos ouvir um som legal até o sol raiar.. Hoje não; parece que tudo é mesmice, não há inovação!Não há surpresa!Não há aventura...Triste!

Anderson de Moura Lima disse...

Será que NÓS poderemos fazer algo para contornar a situação? Não dá para fazer nada? Tentar? Só ficarmos aqui postando?

Willame Figueredo disse...

Pior que meu argumento de achar tudo sem graça possa ser por estar velho cai por terra toda vez que converso com uma pessoa dos seus 18, 17 anos e ela me diz que sair em Teresina é muito sem graça rs..

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