Quem nasce em Recife geralmente é uma pessoa bem regionalista, daqueles que levantam a bandeira do estado e luta por ela com unhas e dentes. Não podemos dizer que esta não é uma atitude louvável, afinal o primeiro passo para a evolução de um lugar é justamente o amor incondicional de seu povo pelo seu pedaço de chão. Agora tudo tem seu ônus, é difícil conversar com um indivíduo nascido e criado na ex-colônia francesa em terras tupiniquins, geralmente é um cara que defende tanto sua terra que se torna uma pessoa chata, difícil de lidar, que não aceita comparações óbvias de um ou outro lugar melhor que o seu, fecha os olhos para os defeitos e apenas enxerga as qualidades, ufanismo puro.
Só que, como falei do ônus, também existe o bônus: A cultura do estado de Pernambuco é pulsante, chovem bandas de extrema qualidade a todo segundo, um lugar é quase um oásis de grandes artistas, de Zé Ramalho a Chico Science, passando por Alçeu Valença, Luíz Gonzaga, Geraldo Azevedo, Mundo Livre S/A, Vital Faria, Elba Ramalho...enfim, a lista é praticamente infinita. É um lugar que valoriza o que se tem e tem sim coisas lindas e belas, dentre elas está aqui talvez uma das melhores bandas brasileiras da década, mais uma descendente do manguebeat, o Mombojó.
Sobre o sol e o céu das vielas de Recife, o Mombojó transita desde 2001 fazendo um som distinto e sobrenatural, com influências fortíssimas do Nação Zumbi, banda que abriu as portas do manguebeat para as demais do gênero serem descobertas pelo resto do Brasil e do mundo. Estouraram nas participações do Abril pro Rock, um dos maiores festivais de música do Brasil, logo não demorou para o sexteto pernambucano ficar famoso Brasil afora através do belíssimo 'Nadadenovo', primeiro CD lançado em 2004. Após superarem a morte do flautista Rafa, falecido com um infarto aos 24 anos, a banda decidiu por não substituir o integrante e seguir como um quinteto utilizando músicos convidados para os demais instrumentos de sopro.
Usando de artifícios regionais como batuques em zambumbas, tambores, percussões, misturados a samples agressivos, guitarras distorcidas e baixos estridentes os pernambucanos seguem levando o manguebeat a se popularizar mais ainda como uma forma de falar de momentos como o amor, a dor, a ternura, o desamor, o carinho, e não podia ser diferente com o disco 'Amigo do Tempo', o terceiro da banda. Após mais de 4 anos do lançamento do segundo e aclamado 'Homem Espuma' o grupo mostra que segue bem e criativo, sobrevivendo muito bem a perda de um dos principais compositores do grupo, utilizando bem as linhas já conhecidas que viraram marca registrada do Mombojó bem mais doces e melhoradas. É como se o disco fosse uma homenagem ao amigo que se foi, facilmente visto em músicas como 'Praia da Solidão' e 'Triste Demais' e também na música que dá nome ao disco, 'Amigo do Tempo'.
Para baixar o 'Amigo do Tempo' basta clicar no link abaixo, aproveite!
MOMBOJÓ - AMIGO DO TEMPO (2010)
1 - Entre a União e a Saudade
2 - Antimonotonia
3 - Passarinho Colorido
4 - Justamente
5 - Qualquer Conclusão
6 - Praia da Solidão
7 - Casa Caiada
8 - Aumenta o Volume
9 - Triste Demais
10 - Amigo do Tempo
11 - Papapa
Ps1: Se você é de Recife, por favor, não me xingue, não tenho nada contra a linda cidade e o maravilhoso estado de Pernambuco, muito pelo contrário, encare no máximo como uma crítica, não como ofensas, grato.
Ps2: Este post é oferecido à Marina Lages (@marinalgt) que andou perguntando se eu não gostava de música nacional por não andar postando coisas da nossa música aqui. Ouça e aproveite este disco!
4 comentários
"Quem nasce em Recife geralmente é uma pessoa bem regionalista, daqueles que levantam a bandeira do estado e luta por ela com unhas e dentes."
Isso é a mesma coisa de dizer que todo teresinense bebe cajuína no café, no almoço, no lanche e no jantar. Resumindo: ignorância.
Com relação ao disco, é triste ver como o Mombojó vai decaindo a cada lançamento. Nadadenovo é aquela perfeição que todo mundo já conhece, o Homem-espuma tem seus momentos mas em suma é fraco e esse Amigo do Tempo, hum... é Mombojó mesmo?
Existem radicais ufanistas em todo lugar, aqui, em São Paulo, no Rio, em Porto Alegre...mas por tudo que vejo em Recife isso é muito mais contundente.
Eu concordo na decaída do 'Nadadenovo' ao 'Homem Espuma', mas ao menos eu senti uma tremenda evolução no 'Homem do Tempo', ainda longe do primeiro CD, mas bastante proveitosa.
Cara, cê precisa conhecer mais gente em Recife.
Disco massa!
elba ramalho é paraíbana
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